19 de julho de 2010

A Casa da Árvore


 (Inspirado em Mais e Menos)
E na casa da árvore entretinha-se imaginando a preocupação de todos ao darem por seu sumiço. Com o tempo, se acostumariam à idéia de viver sem a presença dele e, sem dúvida, se sentiriam aliviados. Não passariam mais pelo constrangimento de ter que justificar seu modos selvagens, sua costumeira clausura, seu silêncio telepático e aquela velha mania de transformar a vida em teorema. E na casa da árvore veria os anos caminharem lentos no compasso de cada dia de sol, eclipse e tempestade. E cravaria a sorte no tronco espesso que sustentaria seu mundo. E na casa da árvore fabricaria histórias frondosas das pessoas que habitavam as cavernas de seu coração. Plantaria as sementes na certeza de que alguém, algum dia, colheria seus frutos. Aos domingos, tomaria chá ouvindo Sinatra num radinho de pilha carregando no olhar a certeza de ter feito as coisas do seu jeito. E já não seria mais necessário contemporizar seus modos bravios, sua reclusão habitual, e aquela velha mania de transfomar a morte em teorema.

Por Maíra Viana em O Teatro Mágico em Palavras

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